sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Amigo incondicional

Ele chegou na nossa vida no dia 17 de abril de 2004. Tinha só 39 dias de vida. Chegou pequenininho, mansinho, branquinho, dorminhoco e chorão. Tinha gente que queria há muito tempo. Teve gente que reclamou, bateu pé, disse que não queria, que não dava. A casa era pequena, a situação não era das melhores. Mas não tinha jeito, era o destino dele... E, por sorte, o nosso!

No primeiro segundo em seu novo lar, não precisou de nenhum esforço para conquistar todo mundo (até quem não queria). Estava com fome, com sede e com muito, muito medo. Mas ele foi recebido com muito carinho, e tenho certeza de que ele nos adotou com muita felicidade também. A velocidade com que abanava o rabo a cada carinho que fazíamos nele não nos deixava nenhuma dúvida: nós já éramos a sua nova família!

Em menos de 24 horas, já tinha uma cama feita à mão (justamente pela pessoa que não queria e que dizia que não dava) e já tinha mobilizado vários vizinhos e amigos. Todos vieram conhecer o novo membro da nossa família. A casa se encheu de vida novamente, os relacionamentos ficaram melhores, a alegria dele era contagiante. Não tinha como olhar em seus olhos e não sentir felicidade e vida. Principalmente, vida.

Saía da faculdade com pressa para brincar com ele em casa. À noite, sempre me buscava nas aulas de dança. De madrugada ele chorava com saudade da mãe, provavelmente. Chorava por medo, por carência. Meu pai nunca se negou a lhe fazer companhia até que ele dormisse. Ele era o nosso único assunto sempre. Porque a minha cabeça, naquele tempo, só pensava nele.


Há pouco tempo, descobrimos que as coisas não estão tão bem assim como pensávamos. Pensar na minha vida sem ele, confesso, me deixou desestruturada. Repensei em meus projetos e em como encaixá-lo neles. Foi nesse exato momento em que notei a real importância que ele tem na minha vida. E, por mais que sempre o amasse e sempre falasse dele com orgulho, me surpreendi quando notei que, para mim, ele significa muito mais do que eu imaginava. Em questão de segundos fiz, mentalmente, uma retrospectiva dos últimos seis anos e, pela primeira vez, quis voltar no tempo e viver tudo novamente. De maneira diferente.

Me arrependi de todas as vezes em que não lhe dei atenção, não brinquei, não o levei para passear, não olhei, não fiz carinho. Me arrependi de não ter ficado mais tempo em casa, de não ter visto a transformação dele de um cachorro pequenininho e mansinho para um cachorro grande, forte, de latido alto e muito brigão! Fecho os olhos e só enxergo o seu olhar pedindo atenção. Mas eu tinha pressa. Sempre tinha pressa e nunca dava tempo. Porque a minha cabeça, durante todo esse tempo, só pensou em mim.

A vida tem um jeito engraçado de nos mostrar algumas coisas. De nos fazer enxergar o que realmente importa. A sua alegria, apesar de tudo, continua contagiante. Os seus olhos continuam alegres e ele nos olha e não entende pra que tantas lágrimas, pra que tanta tristeza. Mas ele sente. Porque os animais são inteligentes. E mesmo que não entenda, fica triste com a gente. Porque é nosso amigo. Mais do que qualquer amigo humano. É amigo incondicional.

A minha cabeça, agora, só pensa nele...

E eu amo. E eu rezo. E eu choro. Mas sei que tudo vai correr bem...