sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Escolhas

Acabei de voltar do almoço com uma amiga. O tema durante quase todo o tempo foi a nossa vida profissional: objetivos, sonhos, escolhas e consequências.

Acho interessante como a vida é mesmo uma caixinha de surpresas (como já dizia Joseph Climber) e como as nossas escolhas fazem com que o nossos caminhos sejam completamente diferentes do objetivo inicial. Aquele objetivo que fez com que a gente marcasse um “X” em determinado curso na hora de fazer a inscrição para o vestibular.

Embora a minha paixão sempre tenha sido a dança, eu sempre tive muito claro na minha cabeça que não iria fazer faculdade disso. Não só pelo fato de ser filha única e de ter que arrumar um trabalho com o qual eu realmente conseguisse me sustentar sozinha, mas porque eu gostava de muita coisa e era difícil escolher. Sabia que, na dança, além da dedicação necessária a qualquer carreira, precisa-se de sorte. Muita. Ainda mais na modalidade de dança que eu escolhi para mim.

Outra coisa muito clara na minha cabeça era que o meu trabalho tinha que ter a ver com arte. Já falei nesse post sobre a importância que a arte tem pra mim. E tinha que ter as duas coisas ligadas. Por isso é que, entre fazer dança, jornalismo, geologia, engenharia civil e direito (sim! Eu já pensei em fazer todos esses cursos aí), eu escolhi Jornalismo. Porque queria ser crítica cultural. Esse era o meu maior objetivo no dia em que entrei na faculdade. E sabia que faria mestrado em Belas Artes depois!

A faculdade é um lugar cheio de sonhos, cheio de carreiras e, obviamente, cheio de escolhas a serem feitas. Dentro do curso de Comunicação, há muitas “faculdades” a serem cursadas. Tudo depende dos professores, das matérias eletivas, do grupo com quem você anda etc. Além da crítica de cultura, eu tive a fase de querer ser fotógrafa de guerra (a parte da guerra foi fácil de desistir, mas a parte da fotografia anda comigo até hoje), de trabalhar em redação de jornal impresso, de ser repórter de TV, de trabalhar em assessoria de imprensa... A única coisa, dentro do que a Comunicação me oferecia que eu sabia que não queria para mim era Marketing.  

No segundo período, tive um professor incrível de Cultura Contemporânea. Decidi que a minha monografia seria feita com ele, embora ele sempre dissesse que não dava 10 para ninguém (fiquei com 8,5 no trabalho final, mas com uma sensação maravilhosa de ter escrito o conteúdo da minha vida!). No quarto período, tive outro professor incrível, que me mostrou que eu sabia escrever bem! Logo nos primeiros trabalhos que entreguei a ele, fui convidada a escrever no Jornal da faculdade. Tive medo da exposição, das críticas, do que ouviria dos meus colegas de turma, mas encarei – afinal de contas, um jornalista tem que saber se expor. Acho que escrevi cerca de seis ou sete matérias entre coberturas, crônicas, críticas, colunas e uma matéria sobre assessoria de imprensa que me colocou cara a cara com grandes repórteres e assessores da época.

Como eu era boba e imatura! Estava ali! De frente com os profissionais que eu gostaria de ser no futuro e não tirei proveito disso. Ouvi de um deles que, já na faculdade, eu escrevia melhor do que muitos “coleguinhas” (como os jornalistas são carinhosamente chamados um pelos outros) e me limitei a responder “obrigada”. Até hoje não entendo o porquê de não ter aproveitado as oportunidades!

Quando já estava pelo quinto período, comecei a me desesperar com o estágio. Precisava de um, ou não teria emprego depois de formada e teria que ser, para sempre, somente professora de dança (não que isso fosse um sacrifício. E não fosse verdade – eu é que sempre gostei de um pouco de drama). Só que como tudo na minha vida, eu não consegui um estágio. Eu consegui três! Na mesma semana! E aí tive que fazer uma escolha. Aparentemente simples de ser feita, mas que mudou, por completo, o rumo que a minha carreira iria tomar.

As opções eram:
- Redação em um impresso: era o salário mais baixo de todos, mas era o que mais me atraía pelo trabalho;
- Secretaria de Cultura: era o salário médio e não preciso nem dizer o motivo da minha vontade em trabalhar lá;
- Área de Comunicação em uma empresa de óleo & gás: melhor salário, além de todos os benefícios de se trabalhar em empresa, como vale transporte, vale refeição etc. Para um estudante de jornalismo, essa opção caída muito bem. Foi, enfim, a opção escolhida! (Um detalhe: moro em Niterói, a empresa era na Barra e eu não tinha carro).

No entanto, eu nunca imaginei que ficaria ali por cinco anos. E também nunca imaginei que, das as atividades de um jornalista em uma empresa (site, relacionamento com imprensa, redação de textos institucionais, promocionais etc) eu, em três anos, estaria cuidando da área de... Marketing! Justamente o que, dentro da Comunicação, era a única atividade que eu não gostava! E não gostava mesmo. O começo foi muito difícil aceitar que eu não era mais jornalista e que eu não trabalharia em redação de jornal. A menos que eu aceitasse começar tudo do zero novamente.

E sabe o que aconteceu? Me apaixonei por Marketing e, de quebra, pelo mercado de petróleo. No lugar do mestrado em Belas Artes, o que fiz foi um MBA em Marketing, depois outro em Marketing Digital, e li livros e mais livros sobre isso. Philip Kotler e suas teorias passaram a ser o meus melhores amigos desde então!

Hoje, encontro amigos da faculdade que trabalham em redes de TV, em jornais impressos, em rádio, em assessorias de imprensa. Tenho aqueles amigos que são fotógrafos, artistas, professores, que publicam artigos e que compartilham seus conhecimentos com outros estudantes. E eu, apesar de jornalista com muito orgulho, fui mordida definitivamente pelo mosquitinho do Marketing.

Nunca imaginaria que trabalharia com isso e que seria tão apaixonada pelo meu trabalho.

Fico triste, às vezes, por não ter seguido o meu objetivo inicial de ser crítica cultural ou por não ter sido repórter de jornal. Mas para isso, tenho o meu blog! (Na verdade, foi para isso que ele foi criado, embora esteja aqui escondido atrás de um login e senha só para mim).


E fico pensando em como a vida é louca e como uma escolha, aparentemente simples e boba, pode mudar completamente o rumo das coisas. Onde será que eu estaria agora se tivesse escolhido a redação de jornal ou a secretaria de cultura?

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Takadime. Tá?

Dê uma batida em qualquer superfície: você terá apenas um barulho. Dê uma segunda batida, uma terceira e você já tem um ritmo” (Mickey Hart)

O Largo do Machado me trás boas recordações. São lembranças de um tempo de dança, arte, cultura, amigos, ensaios, calma, tranquilidade e extrema felicidade.

Frequentei muito Largo do Machado e Laranjeiras em 2005 e 2006, quando ainda estava estudando Jornalismo e dançava no Grupo Raga. Os ensaios para o espetáculo Takadime eram sempre depois das aulas da faculdade. Era engraçado, porque naquele tempo não sentia fome. Saía correndo das aulas, comia um croissant integral e um guaravita e tinha poucos minutos para pegar o ônibus até a Casa Azul, onde eram os ensaios. O trabalho à tarde era forte, era suado, cansativo... Mas muito recompensador. Na saída: mais um croissant e ônibus lotado. Ainda chegava a Niterói e ia direto para as aulas de dança de salão. Definitivamente, eu não sentia fome.

Acho que era porque eu me alimentava demais do que mais me faz feliz: ARTE!

Bons tempos, que não voltam mais.

O meu tempo no Raga foi um período muito intenso e muito importante de descobertas. Descobri, além de pessoas incríveis, a minha criatividade, as minhas necessidades, as minhas vontades, os meus objetivos. Descobri que tinha um estilo próprio de dançar. Descobri que tinha o meu jeito de fazer coreografias (que, infelizmente, se perdeu entre 2006 e 2007... mas já está tratando de se achar). E que fazer coreografias com outras pessoas é mais legal ainda. Foi a primeira vez em que me senti realmente profissional de dança (embora já o fosse no papel há alguns anos). Eu tinha um prazer enorme de dizer “estarei em cartaz no Cacilda Becker de quinta a domingo!” – isso fazia com que eu me sentisse especial. O teatro não lotava todo dia, mas eu dançava como se tivesse um público digno de Rock in Rio. Entregava-me por inteiro, de corpo e alma (e haja corpo... E também haja alma).

Mas a vida acaba te levando para outros caminhos: não que eles também não sejam bons e não que não sejam igualmente importantes e necessários. Mas não são os mesmos.

Tive que amadurecer, começar a estagiar, trabalhar, me formar, estudar mais, me formar de novo, trabalhar mais, trabalhar longe, pegar ônibus. Cheio. Estudar um pouquinho mais pra alcançar um outro objetivo, que me obrigava a estudar mais... E me formar de novo... E trabalhar mais... E dançar menos, cada vez menos, e comer menos arte, e ir menos ao teatro, porque sábado de manhã eu tinha aula (e não era de dança, nem de teatro, nem de arte). E falar duas línguas, três línguas, quatro línguas, que me obriga a estudar mais um pouquinho e ler livros (não sobre dança) e ver filmes (nem sempre sobre arte, embora filme seja arte também). E sobra menos tempo para os amigos, para a família, para o cachorro (por que não?), para prazeres. Para a arte.

Hoje trabalho perto do Largo do Machado. E, coincidentemente, ando repensando a arte na minha vida. Não gosto de ter que ir ao Largo do Machado. Porque me faz ter lembranças que não sei se quero ter. Embora goste de me lembrar delas... E goste de almoçar nos restaurantes do Largo.

Sou muito contraditória e isso não é novidade para ninguém.

Sinto saudades de não ter pressa naquela época. Sinto saudades das pessoas que conheci, das danças que conheci, do aprendizado, dos ensaios mentais enquanto estava em pé voltando para casa dentro de um 996 lotado. Sinto falta da paz que eu sentia. Eu fazia tanta coisa ao mesmo tempo naquela época! E sempre dava pra encaixar mais uma coisinha. Mais uma aulinha. Mais um ensaiozinho. Mesmo que eu tivesse festa na sexta, ensaios e aulas no sábado e tivesse só o domingo para fazer a monografia da faculdade. Sempre dava tempo. Incrivelmente, dava tempo.

O fato é que se a gente não tomar cuidado, a vida rouba o nosso tempo, envelhece a gente, dá cabelos brancos e rugas, dor nos joelhos, tornozelos e coluna... E só uma coisa pode retardar o meu envelhecimento: arte.  Manifestada de qualquer maneira, mas preferencialmente através da dança, óbvio.
Eu sei que isso é o óbvio do óbvio pra mim. E quem me conhece também sabe disso. Mas às vezes eu acho que preciso me lembrar de vez em quando. A vida é tão corrida e tão atribulada, que, de vez em quando, eu esqueço quem eu sou e o que me faz feliz.


Sorte (?) a minha, que trabalho perto do Largo do Machado e tenho as ruas de Laranjeiras bem pertinho para não me deixar esquecer.



quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Atrás do ônibus lotado

Ok. Resolvi que vou tentar de novo...

Não sei se ainda sei fazer isso e confesso que essa página em branco do Word me amedronta de uma certa forma e me faz querer desistir. Mas, ao mesmo tempo, ela me encoraja a tentar redescobrir a pessoa que ficou perdida no passado. Que ria dos ônibus lotados, que não se importava em errar os caminhos, que apesar de ficar estressada com um temporal no meio do dia, no fim das contas, achava graça. Levava a vida com um pouco mais de leveza. E acho que ela até conseguia tirar mais proveito do tempo. Bom, pelo menos, conseguia transformar essas situações em textos engraçados, que ainda me arrancam algumas risadas e boas lembranças. E, com certeza, aproveitava melhor o tempo, nunca perdidos, dos engarrafamentos.

Na verdade, não sei mais as regras da gramática tão de cor como sabia há uns seis anos atrás. E acabo tendo que recorrer ao Mestre Google para ter certeza da regrinha dos porquês. Eu conjugava verbos complicados com uma tranquilidade absoluta. Hoje, não mais. Enferrujei. Empoeirei. Criei teia de aranha. E mofei. Aliás, esse verbo tem sido muito comum no meu vocabulário dos últimos três anos, mas deixa esse assunto pra outro post porque agora... Eu me reempolguei!

Tirei o blog do ar há um tempinho por pura insegurança. Quando a gente procura emprego, a primeira coisa que faz é jogar o próprio nome do Google (bom, eu, pelo menos, faço isso direto). E toda a vez que jogava o meu nome no buscador, o resultado era:

- este blog;
- meus textos do jornal da faculdade que insistem em estar online no arquivo do site da faculdade;
- minha página do Fotolog (Essas coisas é que matam. Nem lembrava mais qual era o meu login do Fotolog e demorei umas três semanas para conseguir deletar a página porque o email cadastrado também não existia mais. Foi muito difícil provar que eu era eu e que eu queria excluir aquela página);
- o meu blog de dança;
- muitas e muitas fotos de dança;
- muitos e muitos vídeos de dança.

Conclusão: não vai dar para esconder que eu danço, nem que eu escrevia textos no jornal da faculdade (muito embora os textos que eu escrevia naquela época eram bem melhores do que os que eu escrevo hoje). A única coisa que dava para esconder eram as minhas reflexões e opiniões inúteis postadas no meu blog. E eu achava (e ainda acho) que isso podia afetar negativamente a impressão das pessoas sobre a minha vida profissional. Daí eu resolvi que ia deletar.

Não tive coragem.

Então eu resolvi que ia criar um login para que só eu acessasse. E, claro, também não queria perder o domínio do “Quem não pode se sacode”.

Só que eu não imaginei que deletando o blog. Ou melhor: escondendo o blog, eu estaria escondendo, também, um lado muito importante de mim. E perdendo um dos meus principais espaços de criatividade e, por que não, de autenticidade.

Não escrevo mais com tanta facilidade. Não sei mais as regras gramaticais com tanta certeza. Não escrevo com a mesma coesão e fluidez com que fazia antigamente. Mas vou tentar. Vou deixar o blog aqui pra mim, por enquanto. Qualquer dia, deixo ele aberto novamente.


Mas, por enquanto, sem pressa. E com a única pretensão de reencontrar aquela pessoa que não se importava com os ônibus lotados, temporais ou engarrafamentos...