quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Takadime. Tá?

Dê uma batida em qualquer superfície: você terá apenas um barulho. Dê uma segunda batida, uma terceira e você já tem um ritmo” (Mickey Hart)

O Largo do Machado me trás boas recordações. São lembranças de um tempo de dança, arte, cultura, amigos, ensaios, calma, tranquilidade e extrema felicidade.

Frequentei muito Largo do Machado e Laranjeiras em 2005 e 2006, quando ainda estava estudando Jornalismo e dançava no Grupo Raga. Os ensaios para o espetáculo Takadime eram sempre depois das aulas da faculdade. Era engraçado, porque naquele tempo não sentia fome. Saía correndo das aulas, comia um croissant integral e um guaravita e tinha poucos minutos para pegar o ônibus até a Casa Azul, onde eram os ensaios. O trabalho à tarde era forte, era suado, cansativo... Mas muito recompensador. Na saída: mais um croissant e ônibus lotado. Ainda chegava a Niterói e ia direto para as aulas de dança de salão. Definitivamente, eu não sentia fome.

Acho que era porque eu me alimentava demais do que mais me faz feliz: ARTE!

Bons tempos, que não voltam mais.

O meu tempo no Raga foi um período muito intenso e muito importante de descobertas. Descobri, além de pessoas incríveis, a minha criatividade, as minhas necessidades, as minhas vontades, os meus objetivos. Descobri que tinha um estilo próprio de dançar. Descobri que tinha o meu jeito de fazer coreografias (que, infelizmente, se perdeu entre 2006 e 2007... mas já está tratando de se achar). E que fazer coreografias com outras pessoas é mais legal ainda. Foi a primeira vez em que me senti realmente profissional de dança (embora já o fosse no papel há alguns anos). Eu tinha um prazer enorme de dizer “estarei em cartaz no Cacilda Becker de quinta a domingo!” – isso fazia com que eu me sentisse especial. O teatro não lotava todo dia, mas eu dançava como se tivesse um público digno de Rock in Rio. Entregava-me por inteiro, de corpo e alma (e haja corpo... E também haja alma).

Mas a vida acaba te levando para outros caminhos: não que eles também não sejam bons e não que não sejam igualmente importantes e necessários. Mas não são os mesmos.

Tive que amadurecer, começar a estagiar, trabalhar, me formar, estudar mais, me formar de novo, trabalhar mais, trabalhar longe, pegar ônibus. Cheio. Estudar um pouquinho mais pra alcançar um outro objetivo, que me obrigava a estudar mais... E me formar de novo... E trabalhar mais... E dançar menos, cada vez menos, e comer menos arte, e ir menos ao teatro, porque sábado de manhã eu tinha aula (e não era de dança, nem de teatro, nem de arte). E falar duas línguas, três línguas, quatro línguas, que me obriga a estudar mais um pouquinho e ler livros (não sobre dança) e ver filmes (nem sempre sobre arte, embora filme seja arte também). E sobra menos tempo para os amigos, para a família, para o cachorro (por que não?), para prazeres. Para a arte.

Hoje trabalho perto do Largo do Machado. E, coincidentemente, ando repensando a arte na minha vida. Não gosto de ter que ir ao Largo do Machado. Porque me faz ter lembranças que não sei se quero ter. Embora goste de me lembrar delas... E goste de almoçar nos restaurantes do Largo.

Sou muito contraditória e isso não é novidade para ninguém.

Sinto saudades de não ter pressa naquela época. Sinto saudades das pessoas que conheci, das danças que conheci, do aprendizado, dos ensaios mentais enquanto estava em pé voltando para casa dentro de um 996 lotado. Sinto falta da paz que eu sentia. Eu fazia tanta coisa ao mesmo tempo naquela época! E sempre dava pra encaixar mais uma coisinha. Mais uma aulinha. Mais um ensaiozinho. Mesmo que eu tivesse festa na sexta, ensaios e aulas no sábado e tivesse só o domingo para fazer a monografia da faculdade. Sempre dava tempo. Incrivelmente, dava tempo.

O fato é que se a gente não tomar cuidado, a vida rouba o nosso tempo, envelhece a gente, dá cabelos brancos e rugas, dor nos joelhos, tornozelos e coluna... E só uma coisa pode retardar o meu envelhecimento: arte.  Manifestada de qualquer maneira, mas preferencialmente através da dança, óbvio.
Eu sei que isso é o óbvio do óbvio pra mim. E quem me conhece também sabe disso. Mas às vezes eu acho que preciso me lembrar de vez em quando. A vida é tão corrida e tão atribulada, que, de vez em quando, eu esqueço quem eu sou e o que me faz feliz.


Sorte (?) a minha, que trabalho perto do Largo do Machado e tenho as ruas de Laranjeiras bem pertinho para não me deixar esquecer.



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