Alarme programado para 3:40h da madrugada. Táxi às 4:50h à minha porta. Calça jeans, roupas confortáveis, tudo pronto para a minha primeira – e talvez única – visita a uma plataforma de petróleo. Marcamos de nos encontrar às 6h no escritório do trabalho. Todos muito pontuais e, apesar do sono, muito animados para a ida ao estaleiro BrasFels (Angra dos Reis), rumo à P-52.
As brincadeiras na van para descontrair e nos despertar não tiveram muito sucesso, e logo todos estavam desmaiados nas cadeiras. Eu, como sempre, muito curiosa e atenta a uma novidade, admirava o nascer do sol por trás da Pedra da Gávea e o céu, ainda timidamente laranja. Era uma bela vista e eu certamente não queria dormir e perder tudo aquilo. Até porque, provavelmente, nunca mais irei presenciar uma cena deste tipo, levando-se em conta que é raro alguém resolver passear por aqueles lados às 6h da manhã. Talvez um pouco mais tarde, em um horário mais normal, quem sabe...
Depois de uma parada básica para o lanche, chegamos ao estaleiro e fomos recebidos muito bem pelo pessoal. Havia roupas, sapatos e equipamentos de segurança identificados com os nossos nomes, o que me deu uma sensação muito boa de que estavam nos esperando e tinham preparado aquilo só para nós. Fizeram um coffee break, nos apresentamos, conversamos, falamos sobre a nossa empresa e tiramos fotos. Depois assistimos uma apresentação sobre a P-52 muito interessante e bem didática para leigos como eu, que não sou do meio, mas sou curiosa o suficiente para querer entender tudo (e, claro, sempre com caneta e papel nas mãos)!
Após ouvir atentamente a vários termos técnicos e ver esquemas e filmes explicativos, consegui subtrair o seguinte: a plataforma semi-submersível P-52 vai operar no Campo de Roncador (na Bacia de Campos) a 125km do cabo de São Tomé. A descoberta do campo foi em outubro de 1996 e que, esta plataforma entrará em operação na Fase 2. A FPSO P-54, que está sendo montada aqui na “minha terra” irá para o mesmo local e tem conclusão prevista para o final deste ano.
A P-52 começou a ser construída em dezembro de 2003 e será concluída em abril deste ano. Produzirá 180 mil barris de óleo e 7,5 milhões de m3 de gás por dia. Pesa 25 mil toneladas, tem 125m X 110m de dimensão e seu alojamento tem capacidade para 200 pessoas. Estará a uma lâmina d’água de 1800m e se ligará a 20 poços produtores e mais 10 de água. Com vida útil de 25 anos, irá explorar tratar e transportar petróleo (ok... eu posso estar chovendo no molhado com estas informações aparentemente óbvias, mas achei tão interessante conhecer uma plataforma, que agora quero descrever tim-tim por tim-tim tudo que vi e ouvi!).
É uma das maiores plataformas do mundo e foi praticamente toda montada no Brasil. Sua base levou dois meses para chegar de Cingapura até aqui, e foi a primeira vez que o mating – processo de ligação entre a base e o topside – foi feito no país.
Depois dessa aula de engenharia (pelo menos para mim) vimos alguns vídeos de segurança e pusemos todos os equipamentos necessários. Capacete, protetor auricular, óculos, sapatos adequados, luvas e até aquela roupa laranja fluorescente! Tudo pronto para, finalmente, poder subir à plataforma!
Subimos pelo elevador e a vista é lindíssima! Além de poder ver o marzão verde de Angra do alto, tínhamos uma vista muito interessante do estaleiro. Uma imensidão de gente trabalhando em um espaço que mais parece um labirinto. Também vimos algumas partes do que será a P-51, que ainda está em fase inicial. Andamos pelos corredores da plataforma, subimos as escadas, olhamos tudo e eu, como turista, revezando o meu tempo entre tirar fotos, prestar atenção e anotar tudo o que me desse tempo. Eu parecia uma criança na Disney. A diferença é que não podíamos subir nos brinquedos!
Eu não tinha a noção de como aquela construção era tão grande por dentro. E pior: muito complexa. Tubos e mais tubos. Tantos tubos que não sei como não davam um nó! E tudo muito colorido! Vermelho, verde, amarelo, azul, prata... Eu imaginava tudo meio cinza.
Entre as minhas fotos e anotações, há algumas coisas que me pareceram interessantes, como o fato de que as turbinas da P-52 são do mesmo tipo das que foram usadas no Boeing 747. Pode parecer bobagem, mas para mim é interessante! Convenhamos que eu não sou engenheira, portanto não estou acostumada a ver essas coisas! É tudo novidade!
Subindo as escadas, um colega de trabalho pára e pergunta: “aquilo é uma tartaruga ou uma arraia?”. Todos paramos na escada e olhamos para baixo. Lá no fundo vimos uma arraia enorme. Calculamos uns dois metros, devido à altura em que estávamos e à nitidez com que a víamos. Seus movimentos ágeis e largos me despertaram o interesse de conhecer o fundo do mar. Quem sabe não acrescento mais um item à minha lista de projetos para o futuro? Aulas de mergulho!
Chegamos ao topo e conhecemos as acomodações, piscina, quadra de futebol, salões de ginástica, cinema, jogos, cartas, auditório, refeitório etc. Quando entramos no salão de controle me senti naqueles filmes futuristas americanos. Só faltava andar que nem astronauta e falar gesticulando! Ok, ok... estou exagerando. Mas achei muito interessante. Aliás, tudo aquilo era muito “interessante”. Acho que já escrevi esta palavra umas 20 vezes, mas não há outra palavra para descrever tudo o que vi. Repito que, para mim, tudo aquilo era novidade.
Hora de voltar à realidade. Voltamos pelo mesmo lugar por onde entramos, mas, desta vez, o elevador estava desligado e tivemos que descer pelas escadas. Confesso que senti uma ponta de medo, principalmente porque descer aquelas escadas íngremes que davam de cara para o mar, carregando a câmera fotográfica do trabalho com aquelas luvas não era uma das tarefas mais fáceis do mundo.
Voltando para o escritório do estaleiro, vi outra coisa que me pareceu “interessante” (olha aí, a palavrinha de novo!). Como estávamos no horário do almoço, muitos trabalhadores descansavam sob a sombra, conversavam e relaxavam antes de voltar para o “segundo turno”. Foi quando vi um grupo de pessoas rezando e cantando com tanta fé, que cheguei a me emocionar. Pensei naquelas pessoas que vivem daquilo, que não têm outro trabalho, que têm que subir e descer 20 mil vezes as escadas intermináveis da plataforma, arriscando suas vidas e, infelizmente, sem outra opção do que fazer. São eles que fazem com que os sonhos das grandes empresas virem realidade. E aquilo tudo veio à minha mente quando olhei 360o e vi aquelas pessoas que passam o dia inteiro ali e ainda encontram um tempo para rezar e agradecer a algum deus (seja lá ele de que crença for).
Então fomos almoçar com as mesmas pessoas que nos receberam tão gentis. Tiramos aquela roupa quentííííííííssima, o capacete (e eu vi que estava parecendo uma bruxa, com o cabelo todo arrepiado), os protetores auriculares (e finalmente pude voltar a escutar sem fazer esforço e parecer uma velha surda), os óculos, as luvas e as botas (que são duras e machucaram todos os meus queridos dedinhos).
Depois de um pouco mais de duas horas de viagem, estávamos de volta à nossa cidade. Foi um dia realmente inesquecível por tudo o que vi e, principalmente, por tudo o que aprendi. Ainda mais se considerarmos que não sou engenheira e não entendo patavinas de engenharia!