terça-feira, 11 de setembro de 2007
Reforma da Língua Portuguesa
As novas regras da língua portuguesa devem começar a ser implementadas em 2008. Mudanças incluem fim do trema e devem mudar entre 0,5% e 2% do vocabulário brasileiro. Veja abaixo quais são as mudanças.
HÍFEN
Não se usará mais:
1. quando o segundo elemento começa com s ou r, devendo estas consoantes ser duplicadas, como em "antirreligioso", "antissemita", "contrarregra", "infrassom". Exceção: será mantido o hífen quando os prefixos terminam com r -ou seja, "hiper-", "inter-" e "super-"- como em "hiper- requintado", "inter-resistente" e "super-revista"
2. quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente.
Exemplos: "extraescolar", "aeroespacial", "autoestrada"
TREMA
Deixará de existir, a não ser em nomes próprios e seus derivados
ACENTO DIFERENCIAL
Não se usará mais para diferenciar:
1. "pára" (flexão do verbo parar) de "para" (preposição)
2. "péla" (flexão do verbo pelar) de "pela" (combinação da preposição com o artigo)
3. "pólo" (substantivo) de "polo" (combinação antiga e popular de "por" e "lo")
4. "pélo" (flexão do verbo pelar), "pêlo" (substantivo) e "pelo" (combinação da preposição com o artigo)
5. "pêra" (substantivo - fruta), "péra" (substantivo arcaico - pedra) e "pera" (preposição arcaica)
ALFABETO
Passará a ter 26 letras, ao incorporar as letras "k", "w" e "y"
ACENTO CIRCUNFLEXO
Não se usará mais:
1. nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos "crer", "dar", "ler", "ver" e seus derivados. A grafia correta será "creem", "deem", "leem" e "veem"
2. em palavras terminados em hiato "oo", como "enjôo" ou "vôo" -que se tornam "enjoo" e "voo"
ACENTO AGUDO
Não se usará mais:
1. nos ditongos abertos "ei" e "oi" de palavras paroxítonas, como "assembléia", "idéia", "heróica" e "jibóia"
2. nas palavras paroxítonas, com "i" e "u" tônicos, quando precedidos de ditongo. Exemplos: "feiúra" e "baiúca" passam a ser grafadas "feiura" e "baiuca"
3. nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com "u" tônico precedido de "g" ou "q" e seguido de "e" ou "i". Com isso, algumas poucas formas de verbos, como averigúe (averiguar), apazigúe (apaziguar) e argúem (arg(ü/u)ir), passam a ser grafadas averigue,
apazigue, arguem
GRAFIA
No português lusitano:
1. desaparecerão o "c" e o "p" de palavras em que essas letras não são pronunciadas, como "acção", "acto", "adopção", "óptimo" -que se tornam "ação", "ato", "adoção" e "ótimo"
2. será eliminado o "h" de palavras como "herva" e "húmido", que serão grafadas como no Brasil -"erva" e "úmido"
quinta-feira, 6 de setembro de 2007
Tenor italiano Luciano Pavarotti morre aos 71 anos (BBC Brasil)
O tenor italiano tinha 71 anos e sofria de câncer no pâncreas.
"O maestro lutou uma longa e difícil batalha contra o câncer no pâncreas que acabou por tirar-lhe a vida", disse Robson, em um comunicado. "Com a mesma atitude que sempre marcou sua vida e seu trabalho, ele manteve uma postura positiva até finalmente sucumbir aos últimos estágios de sua doença."
O cantor havia sido operado do câncer em julho do ano passado, em Nova York. Desde então, não apareceu mais em público.
No dia 8 de agosto, Pavarotti havia sido levado a um hospital em Modena com febre alta. Ele recebeu alta duas semanas mais tarde, depois de ser submetido a uma série exames.
Segundo o correspondente da BBC em Roma, Christian Fraser, apesar de seus familiares terem declarado a jornais italianos, antes de sua morte, que o cantor estava "lutando como um leão", temia-se que Pavarotti tivesse voltado para casa para morrer entre seus amigos e familiares.
Trajetória de sucesso
Nascido em Modena, em 1935, Pavarotti era considerado um dos maiores nomes da ópera em todo mundo e um dos maiores tenores de todos os tempos.
Durante os quase 40 anos que passou no palco, o cantor se transformou em um dos artistas de maior sucesso do mundo.
Ele estreou profissionalmente em 1961 no papel de Rodolfo na ópera La Bohème, de Puccini, na cidade de Reggio Emilia.
Pavarotti foi o responsável por conquistar um novo tipo de público para a ópera, principalmente com sua interpretação da ária Nessun Dorma, da ópera Turandot, de Puccini, que acabou associada à Copa do Mundo de 1990.
Em julho de 2007, anunciou que não cantaria mais até o fim do ano.
Nesta semana o governo italiano havia anunciado que Pavarotti receberia uma medalha por sua contribuição na promoção da cultura do país.
Fonte: BBC Brasil - 06 de setembro de 2007
domingo, 12 de agosto de 2007
Terceira turnê do Momix no Brasil – Espetáculo de luz e formas
O diretor e coreógrafo da companhia, Moses Pendleton, é conhecido pela sua capacidade de unir fantasia e acrobacia em espetáculos de dança. Possui a mania de fotografar tudo o que vê e, a partir daí, criar suas coreografias ilusionistas. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o espetáculo “Opus Cactus”- encenado no Brasil pela primeira vez em 2002 – criado a partir de fotos do deserto do Arizona.
Em “Lunar Sea”, Moses desafia a lei da gravidade, fazendo com que seus bailarinos voem, levitem e se transformem em animais gigantes. Além da técnica de iluminação, a projeção de imagens em uma tela transparente na boca de cena se mistura aos movimentos dos bailarinos e à música. A técnica do ballet clássico se esconde por trás das roupas e cenário negros, mas fica evidente em alguns movimentos das “partes brancas” iluminadas pela luz negra. O espectador, por várias vezes, se encontra surpreendido, sem saber para onde olhar.
Corpos voam e nadam no espaço por trás das imagens do universo e do fundo do mar. A união das partes brancas de dois corpos faz com que um corpo pareça correr em câmera lenta, enquanto a imagem da superfície lunar é projetada. As medusas gigantes formadas por guarda-chuvas e um enorme pano branco dançam uma música empolgante e meio árabe. Neste momento, é a primeira vez que vemos as bailarinas, quando a luz negra dá lugar a uma iluminação comum. Mas isto dura pouquíssimos segundos e logo vemos novamente as medusas e os corpos pela metade e a luz negra e os movimentos acelerados...
Há números somente para pernas e outros somente para braços, que lembram pássaros (na verdade, este número me lembra um espetáculo da Cia. Lúmini, companhia de dança carioca que também utiliza a técnica de luz negra). O Momix utiliza vários acessórios, como uma gangorra (que na verdade é uma escada pendurada), cordas, saias e xales brancos, bolas azuis, roupas coloridas, meias fluorescentes. Tudo encaixado perfeitamente às imagens e à música. Um show de luz, formas e criatividade.
A definição usada no programa oficial do espetáculo é a seguinte: “Pendleton inaugurou uma nova figura de linguagem através do corpo, demonstrando possuir uma completa visão e múltiplas possibilidades para fundir objetos inanimados com o corpo humano, carregando-os ainda com uma arte gráfica coerente. Um espetáculo onde o homem, a natureza e o cosmos são magistralmente unidos para o espectador em um mesmo cenário. E que demonstra que a capacidade de Pendleton não tem limites. ‘Lunar Sea’, um espetáculo emocionalmente visual e intenso, que não deixará ninguém indiferente”.
Depois do Municipal, Momix termina hoje seus espetáculos no Rio, no Citibank Hall. Termina sua turnê brasileira em setembro, passando por São Paulo, Brasília, Salvador, Recife, São Paulo novamente e Curitiba.
Para conhecer mais sobre esta companhia, visite o site: http://www.momix.com/
sexta-feira, 13 de julho de 2007
Monólogos mudos
Começou inesperadamente. Estava tranqüila, batendo papo, quando, de repente, aparece o Pedro Cardoso conversando com o público. Não entendi nada. Cadê os três sinais que antecedem qualquer espetáculo? Por que a luz estava acesa? E essas pessoas entrando ainda? Mas que falta de respeito com o pessoal que ainda está na fila! Oito horas em ponto? Desta vez começou na hora certa?
Olhei para o meu amigo com cara de espanto e, qual não foi a minha surpresa quando ele disse: “ele fez o mesmo em ‘Os Ignorantes’”?? Primeiro: não assisti “Os Ignorantes” que, segundo ele, é melhor que “O autofalante”. Segundo: ele fez o mesmo? Mas... E a criatividade? Terceiro: fez o mesmo e o público ainda achou graça? Sim, porque todos estavam morrendo de rir.
Deixe-me explicar: ele entra e diz que não é o personagem ainda. Que é ele mesmo, Pedro Cardoso, que veio ali conversar com a platéia. Pede desculpas porque acha mal-educado terminar uma peça sem agradecer, mas, que este foi o melhor final que ele encontrou para o roteiro e, por isso, não gostaria de muda-lo. Então, estava ali agradecendo antecipadamente. E todos, é claro, aplaudiram (!!!). Ok, inclusive eu. Não queria parecer a antipática da situação.
Não tem como negar que eu dei algumas risadas durante a peça. Ele é engraçado, e isto é fato. Mas o vocabulário dele é tão pobre. Ele se resume a uns seis ou sete palavrões e os repete durante hora e meia. Ainda bem que ele avisou antes: “Eu mesmo censurei o espetáculo porque tem muito palavrão. Aliás, vocês vão lembrar da peça assim: ‘Mmm... era aquela peça dos palavrões’”.
Estranho. Até domingo passado eu não sabia que era legal lembrar de uma peça devido aos palavrões. Eu achava que o interessante fosse lembrar do espetáculo porque ele te acrescentou em algo, te passou uma mensagem legal, te ensinou alguma lição nova, te fez refletir, te fez dar boas risadas por ser uma comédia inteligente, enfim... Eu tinha um conceito completamente diferente de diversão.
Aliás, comédia inteligente é algo que eu não vejo já há algum tempo. E fico impressionada quando vejo alguém falando que tal peça é uma comédia “engajada” ou “de boas sacadas”. Peraí. Boas sacadas? Imitar um maluco falando ao telefone com uma atendente de telemarketing é boa sacada??? É novidade??? Nunca ninguém fez isso antes??? Nem o próprio Pedro Cardoso? Já o vi 20.972 vezes na televisão fazendo a mesma coisa que eu vi em “O autofalante”.
O que me entristece, na verdade, é comparar bons espetáculos que, infelizmente, saem de cartaz por falta de verba ou por insucesso de público, a verdadeiros “besteiróis” como este do Pedro. E perceber que as pessoas gostam disso. Lotam estas salas de teatro. Fazem filas gigantescas. Compram ingresso antecipado.
Nada contra besteirol. Tanto que eu fui assistir o Pedro e, certamente, não imaginei que a peça seria a mais inteligente do mundo. Mas peralá. O que é que este povo tem contra um espetáculo mais... digamos... “agregador”? Conheço pessoas que têm verdadeira aversão a peças mais inteligentes ou que remetem à nossa cultura. Dizem que é coisa de autista, de gente metida a cult, que acha que é intelectual. Não, não, não! Eu só não entendendo por que as pessoas gastam R$40 ou R$50 para ver uma peça deste nível e lotam teatros, mas não gastam R$20 em um teatro mais rico, que vive com as salas vazias.
Acho que isso tudo é carência. As pessoas precisam rir e riem de qualquer coisa. É como se fosse uma “risada nervosa”, como definiu Bárbara Heliodora sobre o monólogo da Deborah Bloch. Como se nada na vida delas fosse agradável e qualquer coisa descontraída, as fizesse rir.
É uma pena ver o teatro brasileiro indo por este caminho. Temos grandes nomes, mas muito mal aproveitados. Somos um povo essencialmente criativo, mas ultimamente temos falhado. Temos o que dizer, mas preferimos emudecer. Parece que a moda agora é monólogo – só na cidade do Rio de Janeiro, temos nove este mês. O problema é que os atores entram, falam, falam, falam... Mas não dizem absolutamente nada.
segunda-feira, 30 de abril de 2007
Aula de história em forma de teatro
É revoltante a falta de divulgação e, principalmente, o descaso com que foi tratado um espetáculo deste nível. “Aracy Cortes – A Rainha da Praça Tiradentes” não é só um mero musical que relembra músicas e figurinos dos anos 20, 30 e 40. Mas é uma peça que transporta o espectador à épocas passadas - ou até desconhecidas, no caso dos mais jovens. Faz com que o público se sinta parte do passado e dá aquela sensação de saudade de um tempo que não volta mais.
O espetáculo é dinâmico e não deixa o tédio aparecer nem por um segundo. O elenco, formado pela banda Velha Galeria e os atores Carlos Leça, Beth Lamas e Marília Barbosa, parece ter uma interação perfeita e, ainda que sejam poucos atores em cena, não deixam o ritmo desacelerar, conquistando toda a atenção da platéia durante os 90 minutos de show.
O repertório musical – muito bem escolhido, por sinal - arranca aplausos inesperados da platéia e faz com que sintamos vontade de levantar, cantar junto e sair dançando. É uma peça realmente emocionante, do início ao fim. No entanto, dois momentos merecem destaque especial: a hora em que Aracy, na pele de Marília, canta “Aquarela do Brasil” – demonstrando seu amor pela nossa cultura e a sua perseverança em lutar contra um teatro baseado nos moldes europeus.
Diante de bailarinas com plumas e paetês - ao legítimo estilo francês de se fazer teatro - Aracy fazia questão de entrar em cena com sua saia de chita e flor no cabelo, como uma boa baiana. O máximo que fazia para agradar os produtores e diretores, era colocar alguma lantejoula em sua roupa. Desta maneira, representando os brasileiros como eles realmente eram, Aracy conquistou os palcos da Praça Tiradentes por anos e foi a primeira estrela de revista a cantar no exterior, em 1933. Como é dito durante a peça: “Pela primeira vez, o brasileiro se viu na voz, no corpo e na dança de Aracy Cortes”.
O outro momento que merece destaque é a cena dos últimos meses de vida da artista. Com uma conotação que se encaixaria perfeitamente aos dias atuais, a peça denuncia o descaso do governo em relação aos nossos artistas de valor; aos atores e músicos que fizeram história e que lutaram para que a nossa cultura e nosso samba fossem valorizados perante um mundo onde somente quem cantava com sotaque francês ou americano tinha lugar reservado na memória cultural. Se não fossem alguns artistas vivos até hoje, ou pessoas de convívio de Aracy, certamente teríamos perdido um grande capítulo da história do teatro brasileiro.
Toda a peça é narrada pelo personagem J.Maia, na pele de Carlos Leça. Maia é a memória viva de mais de 50 anos do teatro brasileiro. Começou a trabalhar como contra-regra aos 14 anos na Praça Tiradentes e, por conta do amor que tinha pelo teatro e pelos artistas, ganhou uma placa em sua homenagem no Teatro João Caetano. Maia sabe detalhes da vida de Aracy e os conta com muita emoção – emoção esta, muito bem transmitida por Carlos Leça, que conseguiu incorporar, inclusive, os trejeitos de Maia. Neste ponto, a peça pecou em não descrever quem era o contra-regra, de onde ele surgiu e como nasceu sua relação com Aracy.
Leça, além de interpretar Maia, também empresta sua pele à Oscarito, Renato Maia Lira (chefe de gabinete do presidente Washington Luis, com quem Aracy viveu por 12 anos), China e a outras figuras importantes da época. Beth Lamas, por sua vez, começa como a funcionária pública, um tanto quanto fofoqueira, que ajuda Maia nos trâmites para liberar a pensão de Aracy – que, depois de dois anos de burocracia, sai, ironicamente, no dia de sua morte. Mais uma crítica presente nas entrelinhas do roteiro.
Além da funcionária, Beth ainda vive, entre outros, a irmã de Aracy - a também atriz e cantora Dalva Espíndola - e o crítico teatral do jornal “A Noite” Mário Magalhães – que criou o nome com que foi conhecida (o nome verdadeiro de Aracy era Zilda de Oliveira Espíndola). A transição entre um personagem e outro era feita ali mesmo no palco, diante do público; mas as caracterizações de Leça e Beth eram tão perfeitas, que poderíamos confundi-los perfeitamente com outros atores.
A aula de história em forma de teatro é enfeitada por coreografias dinâmicas, engraçadas e sincronizadas e por músicas no estilo “Jura”, “Ai Ioiô”, “Carinhoso”, “Ave Maria”, “Tem francesa no samba” e “Aquarela do Brasil” – belissimamente cantadas nas vozes contrastantes de Marília e de Leça. As músicas se encaixavam perfeitamente no enredo da história, como se fizessem parte das falas dos personagens. Outro recurso muito bem utilizado na peça, e que nos dava uma sensação maior ainda de veracidade, era a inserção de comentários de artistas da época, como Dercy Gonçalves e Carvalhinho.
Aracy Cortes cresceu em Catumbi e se apresentou com os Oito Batutas, grupo de seu vizinho, Pixinguinha. Lançou Paulinho da Viola e foi a primeira a cantar o samba “Aquarela do Brasil” de Ary Barroso, em 1939. Foi uma mulher muito rica por tudo o que conquistou ao longo de sua carreira, mas perdeu tudo o que tinha quando se enviuvou de Renato Meira Lima porque todos os seus pertences estavam em nome dele. Teve uma velhice miserável e não encontrou apoio do governo da época. J.Maia, o ex-contra-regra, a acolheu em sua casa por 25 anos, até o dia de sua morte em 1985. Seu corpo foi velado no Teatro João Caetano, na mesma praça onde ela viu sua carreira decolar.
A peça, escrita por Alexandre Guimarães e dirigida por Rogério Fabiano e Cláudio Lins, que acabou no último domingo, retrata perfeitamente a vida desta artista que a geração atual pouco conhece. Talvez, o espetáculo não seja mais encenado daqui para frente. A falta de divulgação e de interesse por parte do público não garantiu o êxito que deveria ter. É uma pena que uma jóia tão rara da nossa cultura seja lembrada e admirada por poucos. Pior ainda, é saber que dentro de alguns anos – não muitos – essa e outras memórias ficarão perdidas.
É triste ver o descaso das autoridades com o teatro brasileiro. É triste ver o tipo de teatro que ganha força nos dias de hoje. Os anúncios discrepantes em jornais: o besteirol ganha anúncios enormes e coloridíssimos, ofuscando as pequenas publicidades de grandes e verdadeiros espetáculos. O besteirol lota por meses os teatros da cidade e ocupa espaços anteriormente dedicados a verdadeiras obras de arte, tanto da nossa música, quanto da nossa dança.
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007
P-52 para leigos
Alarme programado para 3:40h da madrugada. Táxi às 4:50h à minha porta. Calça jeans, roupas confortáveis, tudo pronto para a minha primeira – e talvez única – visita a uma plataforma de petróleo. Marcamos de nos encontrar às 6h no escritório do trabalho. Todos muito pontuais e, apesar do sono, muito animados para a ida ao estaleiro BrasFels (Angra dos Reis), rumo à P-52.
As brincadeiras na van para descontrair e nos despertar não tiveram muito sucesso, e logo todos estavam desmaiados nas cadeiras. Eu, como sempre, muito curiosa e atenta a uma novidade, admirava o nascer do sol por trás da Pedra da Gávea e o céu, ainda timidamente laranja. Era uma bela vista e eu certamente não queria dormir e perder tudo aquilo. Até porque, provavelmente, nunca mais irei presenciar uma cena deste tipo, levando-se em conta que é raro alguém resolver passear por aqueles lados às 6h da manhã. Talvez um pouco mais tarde, em um horário mais normal, quem sabe...
Depois de uma parada básica para o lanche, chegamos ao estaleiro e fomos recebidos muito bem pelo pessoal. Havia roupas, sapatos e equipamentos de segurança identificados com os nossos nomes, o que me deu uma sensação muito boa de que estavam nos esperando e tinham preparado aquilo só para nós. Fizeram um coffee break, nos apresentamos, conversamos, falamos sobre a nossa empresa e tiramos fotos. Depois assistimos uma apresentação sobre a P-52 muito interessante e bem didática para leigos como eu, que não sou do meio, mas sou curiosa o suficiente para querer entender tudo (e, claro, sempre com caneta e papel nas mãos)!
Após ouvir atentamente a vários termos técnicos e ver esquemas e filmes explicativos, consegui subtrair o seguinte: a plataforma semi-submersível P-52 vai operar no Campo de Roncador (na Bacia de Campos) a 125km do cabo de São Tomé. A descoberta do campo foi em outubro de 1996 e que, esta plataforma entrará em operação na Fase 2. A FPSO P-54, que está sendo montada aqui na “minha terra” irá para o mesmo local e tem conclusão prevista para o final deste ano.
A P-52 começou a ser construída em dezembro de 2003 e será concluída em abril deste ano. Produzirá 180 mil barris de óleo e 7,5 milhões de m3 de gás por dia. Pesa 25 mil toneladas, tem 125m X 110m de dimensão e seu alojamento tem capacidade para 200 pessoas. Estará a uma lâmina d’água de 1800m e se ligará a 20 poços produtores e mais 10 de água. Com vida útil de 25 anos, irá explorar tratar e transportar petróleo (ok... eu posso estar chovendo no molhado com estas informações aparentemente óbvias, mas achei tão interessante conhecer uma plataforma, que agora quero descrever tim-tim por tim-tim tudo que vi e ouvi!).
É uma das maiores plataformas do mundo e foi praticamente toda montada no Brasil. Sua base levou dois meses para chegar de Cingapura até aqui, e foi a primeira vez que o mating – processo de ligação entre a base e o topside – foi feito no país.
Depois dessa aula de engenharia (pelo menos para mim) vimos alguns vídeos de segurança e pusemos todos os equipamentos necessários. Capacete, protetor auricular, óculos, sapatos adequados, luvas e até aquela roupa laranja fluorescente! Tudo pronto para, finalmente, poder subir à plataforma!
Subimos pelo elevador e a vista é lindíssima! Além de poder ver o marzão verde de Angra do alto, tínhamos uma vista muito interessante do estaleiro. Uma imensidão de gente trabalhando em um espaço que mais parece um labirinto. Também vimos algumas partes do que será a P-51, que ainda está em fase inicial. Andamos pelos corredores da plataforma, subimos as escadas, olhamos tudo e eu, como turista, revezando o meu tempo entre tirar fotos, prestar atenção e anotar tudo o que me desse tempo. Eu parecia uma criança na Disney. A diferença é que não podíamos subir nos brinquedos!
Eu não tinha a noção de como aquela construção era tão grande por dentro. E pior: muito complexa. Tubos e mais tubos. Tantos tubos que não sei como não davam um nó! E tudo muito colorido! Vermelho, verde, amarelo, azul, prata... Eu imaginava tudo meio cinza.
Entre as minhas fotos e anotações, há algumas coisas que me pareceram interessantes, como o fato de que as turbinas da P-52 são do mesmo tipo das que foram usadas no Boeing 747. Pode parecer bobagem, mas para mim é interessante! Convenhamos que eu não sou engenheira, portanto não estou acostumada a ver essas coisas! É tudo novidade!
Subindo as escadas, um colega de trabalho pára e pergunta: “aquilo é uma tartaruga ou uma arraia?”. Todos paramos na escada e olhamos para baixo. Lá no fundo vimos uma arraia enorme. Calculamos uns dois metros, devido à altura em que estávamos e à nitidez com que a víamos. Seus movimentos ágeis e largos me despertaram o interesse de conhecer o fundo do mar. Quem sabe não acrescento mais um item à minha lista de projetos para o futuro? Aulas de mergulho!
Chegamos ao topo e conhecemos as acomodações, piscina, quadra de futebol, salões de ginástica, cinema, jogos, cartas, auditório, refeitório etc. Quando entramos no salão de controle me senti naqueles filmes futuristas americanos. Só faltava andar que nem astronauta e falar gesticulando! Ok, ok... estou exagerando. Mas achei muito interessante. Aliás, tudo aquilo era muito “interessante”. Acho que já escrevi esta palavra umas 20 vezes, mas não há outra palavra para descrever tudo o que vi. Repito que, para mim, tudo aquilo era novidade.
Hora de voltar à realidade. Voltamos pelo mesmo lugar por onde entramos, mas, desta vez, o elevador estava desligado e tivemos que descer pelas escadas. Confesso que senti uma ponta de medo, principalmente porque descer aquelas escadas íngremes que davam de cara para o mar, carregando a câmera fotográfica do trabalho com aquelas luvas não era uma das tarefas mais fáceis do mundo.
Voltando para o escritório do estaleiro, vi outra coisa que me pareceu “interessante” (olha aí, a palavrinha de novo!). Como estávamos no horário do almoço, muitos trabalhadores descansavam sob a sombra, conversavam e relaxavam antes de voltar para o “segundo turno”. Foi quando vi um grupo de pessoas rezando e cantando com tanta fé, que cheguei a me emocionar. Pensei naquelas pessoas que vivem daquilo, que não têm outro trabalho, que têm que subir e descer 20 mil vezes as escadas intermináveis da plataforma, arriscando suas vidas e, infelizmente, sem outra opção do que fazer. São eles que fazem com que os sonhos das grandes empresas virem realidade. E aquilo tudo veio à minha mente quando olhei 360o e vi aquelas pessoas que passam o dia inteiro ali e ainda encontram um tempo para rezar e agradecer a algum deus (seja lá ele de que crença for).
Então fomos almoçar com as mesmas pessoas que nos receberam tão gentis. Tiramos aquela roupa quentííííííííssima, o capacete (e eu vi que estava parecendo uma bruxa, com o cabelo todo arrepiado), os protetores auriculares (e finalmente pude voltar a escutar sem fazer esforço e parecer uma velha surda), os óculos, as luvas e as botas (que são duras e machucaram todos os meus queridos dedinhos).
Depois de um pouco mais de duas horas de viagem, estávamos de volta à nossa cidade. Foi um dia realmente inesquecível por tudo o que vi e, principalmente, por tudo o que aprendi. Ainda mais se considerarmos que não sou engenheira e não entendo patavinas de engenharia!
quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007
Deu branco
(Escrevi este texto no 5o período da faculdade. Gosto dele. Ou melhor, gostava. Lendo agora me parece péssimo, mas na falta do que postar...)
Deu branco
Na faculdade, o professor mandou fazer uma redação sobre “prova com consulta”. E o que eu poderia escrever sobre isso? Fiquei mais de vinte minutos pesquisando e pensando, olhando para os lados e vendo todos os meus colegas escreverem e, eu, com a minha página vazia. Deu branco.
Poderia abordar este assunto de várias formas, mas não sei como. Por exemplo, poderia dizer o que eu acho deste tipo de prova. É verdade que na hora do sufoco, normalmente numa sexta-feira depois de uma semana inteira de provas, uma “cola programada” ajuda bastante. Mas às vezes complica muito. Quando eu tenho sete ou oito textos com vinte páginas cada e tenho que fazer uma questão ou duas, por onde eu começo? E quando eu tenho que escrever sobre um tema reflexivo (como os professores gostam de dizer) e com mil páginas para consultar?
Às vezes eu sinto saudade do colégio e das provas de matemática, com aquelas fórmulas todas gravadinhas na cabeça, ou das provas de história, quando eu virava noites decorando tudo. A “cola” nunca foi meu forte. Sempre que tentava colar, parecia que eu estampava na minha testa algo como “professora, eu estou colando”, e ficava tremendo, com as mãos geladas. E quando a prova era em dupla, parecia que tudo mudava. O fato de ter outra pessoa fazendo a prova comigo me confortava. Mesmo que eu fizesse quase tudo sozinha, parecia que eu estava em segurança. E se desse tudo errado, a culpa não era só minha.
O fato de poder consultar ou conversar com alguém sobre o que se escreve, dá a sensação de segurança. Às vezes o que se lê apenas confirma o pensamento. E às vezes nem é necessário consultar.
A consulta facilita também a vida do professor, que não tem que ficar vigiando a turma, procurando por algum indício de cola. Qualquer papel que caia no chão já é motivo de um olhar atravessado.
Além disso, com cola ou sem cola (ou com consulta ou sem consulta), uma prova não demosntra o conhecimento de ninguém. Não é sempre que estamos bem, inspirados e tranqüilos. Cada um tem a sua vida, e seus problemas. E se a prova cai justamente num dia ruim? Ou se cai justamente aquele tema que não parecia “alvo” e não foi bem estudado? E perdemos um semestre inteiro de estudos e dedicação por causa de um dia, de uma prova. É um pouco injusto.
Mas apesar de tudo isso, prefiro ainda as provas com consulta. Mesmo que eu não consulte nada, parece que me sinto mais confortável para errar e não tenho aquele medo de... dar branco.
terça-feira, 6 de fevereiro de 2007
Eu sacudo, tu sacodes, ele sacode...
Já fui anônima, quando tinha o “Anonimamente” e escrevia besteiras sobre minha vida, que ninguém queria escutar, mas eu, mesmo assim, falava. Era aquele blog típico de adolescente que adora uma novidade, principalmente as que terminam em “log”, como: fotolog, blog, moblog, videolog etc. É lógico... Naquela época eu não tinha muito o que fazer, e absolutamente nada a dizer. Era tão inútil, mas tão inútil que nem eu mesma tinha paciência para reler os meus próprios textos. Um belo dia, perdi a paciência até de atualizar... E, vamos combinar... Ainda bem que eu perdi a tal paciência!
Depois de um ano – quando eu achava que tinha algo a dizer – tentei de novo. Com apenas um único texto, o “Segunda Tentativa” não passou de uma mera tentativa e está por aí perdido em algum canto abandonado deste imenso mundo cibernético. Neste texto, eu me propunha a escrever textos mais reflexivos, sem expor tanto a minha vida, tentando dar um toque mais cultural aos meus rascunhos. Pensando bem... Deve ser por isso que aquele texto ficou sozinho... Sem “amigos textos” ou “amigas letras”... Sequer “amigos comentários”!
Agora estou aqui me sacudindo no terceiro blog do meu currículo internético! Não que agora eu tenha algo interessante a dizer, mas... Sempre algo a falar! Vocês (mmm... há vocês? Ok... pelo menos algum amigo imaginário lerá assiduamente o meu blog!). Mas, como eu ia dizendo... Vocês devem estar se perguntando o porquê deste nome tão estranho para um blog. Bem... Por dois motivos.
Primeiro: não gostaria de ver o meu nome estampado em um link de blog. Exemplo: “Blog da Maria”, “Blog do João”, “Blog do Fulaninho de Tal”. Não que eu ache feio, mas acho estranho “Blog da Lorenna”. Não soa bem e me parece pouco original. (Um recado aos meus amigos blogueiros: não estou falando mal do nome dos respectivos blogs! Só acho que eu, Lorenna, não combino com um nome desses).
Segundo: em cada blog que eu tive, procurei expressar um momento meu. Em “Anonimamente” comecei sem divulgar ao menos o meu nome, mas acabei colocando link para os meus fotologs (sim, eu tinha dois fotologs, de tão anônima que era), escrevendo toda a minha rotina e coisas do gênero. No segundo blog, estava meio desanimada e descrente de tudo. A “segunda” tentativa na verdade, era a única. Mas enfim... Parece que foi frustrada.
Agora venho com este! Acho que todo mundo conhece aquele ditado: “Quem pode, pode. Quem não pode, se sacode”. E, ao contrário do que parece, este nome não tem nada a ver com o Carnaval. Embora estejamos na época da folia, em ritmo de blocos e vendo mulatas sambando e se sacudindo a cada cinco minutos na televisão, este “sacudir” é outro.
É quando o sujeito que não pode tem que viver em ritmo de samba a vida toda para chegar onde quer. (E nisso, nós brasileiros temos privilégio. Não é à toa que somos apelidados de “malandros”). E é assim que eu tenho sido nos últimos meses. Não “malandra” no sentido pejorativo, mas naquele que define o brasileiro como o cara que “se vira nos 30” e sempre acha uma saída.
Não é porque “quem não pode se sacode” que eu ache que eu não possa, ok? Mas é que nos dias de hoje, até mesmo aquele que pode, tem que se sacudir para viver. Salvo raras exceções. Sempre há aqueles que já nascem sacudidamente virados para a Lua... Mas quem não nasce, não tem jeito. Tem que se sacudir. Por isso estou aqui, tentando fazer deste espaço um lugar onde eu possa me expressar livremente e praticar os meus quatro anos de faculdade de Jornalismo antes que eu me esqueça de como se escreve. Talvez assim, quem sabe...
Acho que prefiro parar a explicação do nome do meu blog por aqui. Se não, vou acabar causando conflitos pessoais, profissionais e existenciais... Quem entendeu, ótimo. Quem não entendeu, se sacode!
Neste blog não vou ter a pretensão de definir estilos ou linhas. Quem sou eu para isso? Só vou escrevendo de acordo com o meu tempo disponível. Vou tentar me dividir em mais uma Lorenna. Existe a Lorenna-que-mora-em-Nikiti-e-trabalha-na-Barra-sem-carro, existe a Lorenna-bailarina, a Lorenna-professora-de-dança-nas-horas-vagas e muitas outras. Agora há uma nova: a Lorenna-que-vai-ter-tempo-para-escrever-em-um-blog. Boa sorte para ela!
Quem quiser acompanhar, seja bem-vindo para se sacudir à vontade no campo “Comentários”, criticando, elogiando, falando mal, esculachando... Quem não quiser: um beeeeijo, tchau!